domingo, setembro 17, 2006

Aos verdes caloiros, futuros capas negras

A passagem do testemunho

Caro caloiro, antes de mais felicito-te pelo teu ingresso na Universidade, e aproveito para te dar as boas vindas à nossa velha academia, à qual espero que muito te venhas a orgulhar de lhe pertenceres.
Agora que soltaste as tuas amarras do cais, e que te lanças à vida em busca de novos mares, com os receios normais de quem deixou o ninho, deixo-te um poema de Pedro Barroso, quanto a mim um dos melhores poetas contemporâneos da língua lusa, que diz tudo o que neste momento te quero transmitir, e que espero ter um dia oportunidade de te dizer pessoalmente.

Cordiais cumprimentos

Hilário


Depois de algumas horas conversando, alta noite, à frente de uma mesa, por onde já passou vinho de mais e os petiscos da amizade com certeza, com aquela ansiedade natural de quem quer correr todos os caminhos que ainda houver para descobrir na vida, pediste-me uma vez, irmão mais jovem nestas causas por cumprir, que te ensinasse opções, que te aconselhasse e sugerisse, e eu em nítido nulo disse-te nada, e nada realmente foi uma ausência de palavras bem escolhido. Mas de todos os silêncios que há na noite, um outro grande fez-se nos teus olhos, a meio caminho entre a busca e a devoção e um império de perguntas reflectido. Decerto desejavas muito mais do que aquilo que eu te oferecia, mas não há outra resposta, outro sentido, outro nome, outra cara, outro apelido…
Procuravas em mim decerto o conselheiro mais velho e sabedor, mas terás de conformar-te se não te aponto caminhos ideias, nem elucido, que o homem que conheço e habito, sempre resistiu de mais ao outro, ao poeta a que presido.
Contudo, se queres mesmo que te diga alguma coisa, sempre te adianto o que souber, e desculpa lá se não fizer muito sentido…
Não há ontem que não durma, nem hoje que não morra no amanhã, e o futuro não tem cor nem tem partido. Caso a caso a espaços ser feliz, usar excessivamente a vida, mesmo quando não lhe estamos a ver muito o sentido. Agitar sempre antes de usar, como diz no prospecto, e deixar aos outros, embora vigiadamente, os cuidados peçonhentos da gestão, apurar em fogo brando as coisas do afecto, em labaredas a saltar soltar paixão, pouco mais te pode adiantar quem fôr artista, a cada minuto olhar o céu, beber o mar, as pedras da montanha e a fé toda! A cada minuto olhar este país a navegar, é por isso que eu olho o mundo inteiro e olho toda a gente, e cada riso, a cada árvore festejo a boda triunfal da natureza aqui presente, e tenho os animais, e tenho os meus amigos, e tenho o fogo á noite, e tenho o teu sorriso, e tenho a história sempre e a serra ali à vista… Embriago-me todos os dias de futuro e de saudade, embriago-me todos os dias como se fosse eu próprio a liberdade, vou-me bastando a mim mesmo na conquista, que mais posso dizer-te companheiro?.... Que amei tudo de mais!....”


Pedro Barroso

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